domingo, 1 de janeiro de 2012

Fique vivo: não entre com doçura nessa noite acolhedora


A palestra acima de Joe Betts-Lacroix no TEDxSF (San Francisco - Califórnia) em 2011 intitulada "Fique vivo: não entre com doçura nesta noite acolhedora" realmente ressoou em mim. Acho que esse é o espírito!

Resolvi legendá-la em português. Afinal, são 200 milhões de pessoas que falam português no mundo e precisam ter ao menos a oportunidade de poder conhecer o assunto.

Se você concordar com as ideias desta palestra, divulgue-a. Os obstáculos culturais não são menores que os desafios científicos.

Halcyon Molecular: a empresa "start up" que quer transformar a biologia em uma ciência da informação com vistas a curar doenças e estender o tempo de vida dos seres humanos.

Lembro-me de uma notícia veiculada no Yahoo! este ano sobre o Aubrey de Grey e a cura do envelhecimento. Não consegui achar a notícia original com os comentários, mas lembro de alguns comentários de cabeça. Havia dezenas de comentários e quase todos negativos. As pessoas argumentavam coisas do tipo: "Se as pessoas viverem 1000 anos, não teremos como aposentar" ou "se não envelhecermos, a previdência social vai quebrar" ou ainda "o governo vai roubar ainda mais dinheiro da gente" e "se descobrirem a fonte da juventude, políticos como o Sarney nunca sairão do poder".

É um privilégio poder assistir o cérebro dos internautas funcionando a todo vapor! Quanta preocupação cívica com o INSS! Os brasileiros são tão patriotas a ponto de preferirem a própria morte à falência da previdência social (eu preferiria esquecer a aposentadoria e ser produtivo pelos séculos a fora). Uma lição de patriotismo abnegado para o resto da humanidade. A Dinamarca e a Suécia devem estar morrendo de inveja.

E a preocupação com a política? Os internautas, nos mesmos comentários desta notícia, diziam que é melhor todo mundo morrer "para que o Sarney também morra", a existir uma cura para o envelhecimento que beneficie a todos. Colocam (obviamente, só em um fantasioso comentário na internet) a participação política acima de suas próprias vidas. E, ainda, preferem condenar não só uma, mas todas as pessoas boas e criativas (nem Albert Einstein ou Fernando Pessoa escapariam se estivessem vivos!) só para garantir que os corruptos também morram. Ora, não seria mais fácil deixar de votar nos corruptos ou mudar o sistema político? Ou derrubá-los como fizeram os árabes? Também se esquecem que os corruptos possuem filhos, netos, irmãos etc. que rapidamente os substituem. Os corruptos podem ser mortais, mas a corrupção é perene.

Em resumo: as dificuldades culturais são enormes. Como Einstein disse, "é mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito" e há muito preconceito quanto ao tema superlongevidade e combate ao envelhecimento. Além da religião falar que não há problema algum e que o céu fica depois da morte, mesmo quem não é religioso sustenta que não seria uma boa ideia com base nesse tipo de fundamentação.

Uma razão mais preocupante sobre as consequências da superlongevidade diz respeito à escassez de recursos e a quantidade de gente que o planeta terra suporta. Mas é preciso considerar que as taxas de natalidade se reduzem drasticamente quando um país atinge certo nível de desenvolvimento e, o principal: não há um único habitante na Lua, nem em Marte ou nas luas de Júpiter. Definitivamente, há muito espaço no céu. E já há gente séria prometendo colocar "milhões de pessoas" em Marte: http://www.newscientist.com/article/mg21228433.000-ill-put-millions-of-people-on-mars-says-elon-musk.html

Você acha que não caberia tanta gente no planeta se houvesse uma cura para o envelhecimento? Que tal mandar o excedente para explorar Marte?
Acho que por isso a causa do combate ao envelhecimento mexe comigo. É que é me parece algo tão óbvio, tão plausível e, ao mesmo tempo, tão ignorado (ou combatido) que me causa espanto. Você vê toda a preocupação e sofrimento em relação às doenças, mas nenhuma preocupação em relação à esta grande doença-mãe que é o envelhecimento. Assim, divulgar esse ponto de vista alternativo é essencial.

Eis o poema de Dylan Thomas a que Joe Betts-Lacroix se refere (traduzido do inglês por Ivan Juqueira):

O poeta Dylan Thomas por ocasião da morte de seu pai: "Não entres nessa noite acolhedora com doçura"
























Não Entres Nessa Noite Acolhedora Com Doçura

“Não entres nessa noite acolhedora com doçura,
Pois a velhice deveria arder e delirar ao fim do dia;
Odeia, odeia a luz cujo esplendor já não fulgura.

Embora os sábios, ao morrer, saibam que a treva lhes  perdura
Porque suas palavras não garfaram a centelha esguia,
Eles não entram nessa noite acolhedora com doçura.

Os bons que, após o último aceno, choram pela alvura
Com que seus frágeis atos bailariam numa verde baía
Odeiam, odeiam a luz cujo esplendor já não fulgura.

Os loucos que abraçaram e louvaram o sol na etérea alvura
E aprendem, tarde demais, como o afligiram em sua travessia
Não entram nessa noite acolhedora com doçura.

Os graves, em seu fim, ao ver com um olhar que os transfigura
Quanto a retina cega, qual fugaz meteoro, se alegraria,
Odeiam, odeiam a luz cujo esplendor já não fulgura.

E a ti, meu pai, te imploro agora, lá na cúpula obscura,
Que me abençoes e maldigas com a tua lágrima bravia.
Não entres nessa noite acolhedora com doçura.
Odeia, odeia a luz cujo esplendor já não fulgura.”